Do que eu estou fugindo afinal? O que há no desenrolar da trama que pode me tirar de quem sou? Do que as pessoas fogem? O que é fugir afinal? Estamos fugindo quando estamos imersos na vida cotidiana? Estamos fugindo quando andamos por aí carregando papéis e buscando um salário maior na escalada do mundo corporativo? Estamos fugindo quando estamos passando o tempo com a nova temporada daquela série? Quando estamos imersos nas tarefas do dia-a-dia? Quando não conseguimos dormir? Quando não sabemos mais quem somos e por que viemos para esse mundo? E mais, estamos fugindo de tudo isso quando estamos meditando? Estamos fugindo do desenrolar comum dos fatos? Como não fugir em um mundo de fugas?Em todos os casos, eu fujo de mim mesmo, da minha natureza, e a fuga está em não se perceber como é, e assumir esse papel. A fuga está em todas as forças criadas pela mente e pela consequente matriz de pensamentos construída a partir da interação com a realidade física. Se percebo quem sou no presente e tenho certeza de quem eu quero ser, não fujo. Porém como posso perceber quem sou no presente? Preciso me observar. Se observar é redobrar a atenção, é perceber o que está fora e o que está refletindo dentro. Aos poucos, com a observação frequente e determinada, percebe-se que o próprio observador, ou a atitude observadora tem condições de existência diferente, surge uma nova forma de ver o mundo, uma forma neutra e compreensiva, compassiva e amorosa. Aos poucos a força dessa nova expressão de si vai se cristalizando e criando condições de se expressar, de não só observar, mas também agir, e então é possível perceber que o que está refletindo dentro pode ser moldado, pode ser ressignificado a partir deste observador compassivo e amoroso. Isto tende a refletir aos poucos com o meio e com a maneira com que o ser interage com o meio, pois as coisas já não são mais vistas como eram antes, e o ser já não se vê em uma situação dolorosa, sua existência passa a ser cada vez mais plena, suas emoções negativas são percebidas e compreendidas e transmutadas, e sente que não tem mais débitos, não tem mais medo, não tem mais anseios, sua plena existência é suficiente e portanto não foge do exato momento a que está e das circunstâncias que o circundam, mas percebe a beleza destas circunstâncias, e como tudo o que está construído neste exato momento serve para sua evolução na escalada da consciência.