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Doutor 98FM

56 Episodes

2 minutes | Oct 31, 2018
#57 - O silêncio dos afogados
Gritos no meio da serra, no meio do nada. Acionada com urgência, a viatura dos bombeiros atravessa sacolejando a velha estradinha, tentando encontrar a dita cuja pedreira abandonada. É o verão que vem chegando, trazendo consigo os inevitáveis afogamentos. Na chegada da guarnição, a perplexidade de sempre. Dois corpos em silêncio, estendidos nas margens do imenso lago artificial formado pela chuva. Dois irmãos, daqueles que não se desgrudam por nada. Um de doze outro de dez. Tragédia. Como ninguém no local soube estimar o tempo de afogamento, os bombeiros decidem seguir o protocolo, iniciando as manobras de reanimação. Isso porque não é tarefa simples diferenciar se um afogado está morto ou se está em parada cardiorrespiratória. Infelizmente, as massagens torácicas, seguidas pelas insistentes ventilações, não surtiriam qualquer efeito sobre os meninos. Imagino que você deva estar se perguntando - assim como eu - como essas desgraças ainda podem acontecer. Como pode haver tantos lugares assim, com até vinte e tantos metros de profundidade, sem qualquer restrição de acesso à água ou sinalização de perigo? Represa, cava, lago, rio, tanque... é surpreendente saber que o número de óbitos nesses locais muitas vezes é maior do que os registrados em nossas praias, nas operações de verão. Mais que isso, é uma lástima saber que muitas dessas vítimas são crianças de famílias de baixa renda que - por falta de opções de lazer - acabam atraídas para essas armadilhas a céu aberto, geralmente sem saber nadar e longe dos seus responsáveis ou de qualquer tipo de supervisão. Esse texto não tem a pretensão de mudar o comportamento de ninguém, simplesmente porque certas coisas nunca mudaram. Nem mudarão. Contudo, por se tratar de um tipo de morte brutal e desesperadora, fica aqui o meu lamento. Pelas crianças que se afogaram. E pelas que ainda se afogarão. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#56 - O salvador da pátria
Idolatrado por muitos, o ar-condicionado pode ser considerado um desses salvadores da pátria. Ainda mais nesses dias de fúria solar, nos quais temos a sensação - e a convicção - térmica de estarmos sentados em um forno a lenha. Seja em casa, na escola, no trabalho ou no shopping. Seja no carro, no ônibus ou até mesmo no avião. A presença dos aparelhos de ar-condicionado é cada vez maior em praticamente todos os cantos. Contudo, e sempre existe um contudo, para algumas pessoas o aparelho está muito mais para vilão do que para mocinho. Sinusite, faringite, rinite, laringite, bronquite, pneumonite... são apenas alguns dos ‘ites’ que costumam invadir os consultórios médicos nessa época quente do ano. Tudo potencializado pelo hábito condicionado do ar refrigerado. Muitos dos malefícios acontecem pelo uso exagerado do ar-condicionado, no qual o aparelho é usado por um período prolongado em temperaturas congelantes. Além disso, grande parte dos aparelhos não passa por qualquer revisão de seus filtros, que costumam acumular todo tipo de sujidades e microorganismos nocivos à saúde. Por fim, a mudança brusca de ambiente - úmido para seco, gelado para quente - promove uma verdadeira bagunça em nosso corpo, ressecando mucosas e trato respiratório. A prevenção, claro, passa pelo uso racional do aparelho, pela manutenção preventiva de seus filtros e dutos, pela hidratação com muita água e aplicação de soro fisiológico para evitar o ressecamento das narinas. A briga maior talvez não seja com o aparelho, mas entre aqueles que o amam e os que o odeiam. No final, o que deveria prevalecer é o respeito à saúde do próximo. Sempre. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#55 - O homem pedra
Aos poucos a noite vai tomando conta do plantão de sábado. É quando uma ambulância dos bombeiros chega apressada, com suas luzes e sirenes exageradas. A bordo, imobilizado na prancha e com colar cervical, um senhor completamente coberto com cimento. Só consigo distingui-lo de uma estátua pelo branco dos olhos, e porque normalmente estátuas não têm o costume de gritar de dor. Pois é. Pedreiros, encanadores, eletricistas, carpinteiros, pintores... é no fim de semana que esses ‘profissionais’ resolvem reformar suas próprias casas e isso inclui, muitas vezes, uma visita indesejada ao pronto-socorro. Dessa vez, seu Demétrio inventou de rebocar uma parede externa, no alto de seu sobrado. Num tropeço, rolou pelo telhado caindo de uns três metros de altura numa caixa de madeira, daquelas usadas para o preparo da argamassa. O resultado? Diversas escoriações, luxação de quadril, fratura de duas vértebras lombares e cimento por toda parte, incluindo algumas cavidades do seu corpo. Após analgesia endovenosa, radiografias e uma tomografia caprichada, seu Demétrio foi liberado para um banho na maca, antes de ser encaminhado para o centro cirúrgico. Como o cimento já havia secado, a enfermagem levou quase uma hora para removê-lo e, quando terminou, o paciente estava com a pele toda avermelhada pela agressão química do produto. Felizmente, no final das contas tudo deu certo. Nosso homem de pedra teve sua coluna lombar fixada com placas de metal e três dias depois já estava em sua casa, pronto para novas reformas. Seu Demétrio, preciso deixar registrado aqui o meu abraço. Peço perdão por qualquer coisa e agradeço por contaminar a todos aqui com o seu otimismo, bom humor e, claro, muito cimento. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#54 - O Homem-bomba
A ambulância dos bombeiros invade barulhenta e sem cerimônia um conhecido shopping da cidade. Na praça de alimentação sangue por todo lado. Forçando a fita de contenção, colocada às pressas pela polícia, uma pequena multidão se faz curiosa. Sim, é sangue mesmo. Não é mertiolate. Espalhadas pelo chão, três pessoas alvejadas após o desentendimento entre dois marmanjos. O motivo não poderia ser outro se não a mistura certa de mulher errada com chope. Trazidos para o hospital, apenas dois sobreviveram. Se você acompanha os noticiários, já deve ter percebido que ataques terroristas viraram moda em todo o mundo. Mas o Brasil cultiva um tipo curioso de terrorismo. Aqui não se espalha o terror por motivos políticos, religiosos ou por disputas territoriais. Aqui não tem essa bobagem de homem-bomba. Nosso negócio é homem-burro mesmo. Daqueles que frequentam armados locais públicos sem o menor equilíbrio psicológico, colocando todos em risco por motivos como futebol, brigas fúteis, dinheiro alheio, ciúmes de mulher e, claro, por bebedeira. O acesso a armas de fogo nunca foi tão simples, tanto pelas vias legais quanto paralelas. Do mesmo modo, a obtenção do porte não chega a ser um desafio intelectual. O que salva é que estamos no Brasil, não é? Somos um povo afável, pacífico e gentil. Contudo, e na dúvida, o melhor talvez seja se trancar em casa. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
3 minutes | Oct 31, 2018
#53 - O corredor
Hoje 53 motociclistas vão morrer em nosso país. O que você tem feito para tentar ficar fora da lista? Noite apurada no pronto-socorro. Os socorristas quase derrubam a porta da emergência. Mais uma motocicleta prensada no corredor entre os carros. Marcelo, 26 anos, fraturas múltiplas, apresenta-se confuso, gemente e imobilizado na tábua. Quando me encosto na maca para assinar a papelada e liberar os bombeiros, sinto o paciente agarrar o meu jaleco. - Cuida da minha mulher... – sussurra assustado, por entre o colar cervical. De sobressalto, olho para a ambulância entreaberta na plataforma escura e percebo outra maca com mais uma vítima, coberta com lençol. Olho perplexo para o socorrista, que discretamente faz um não com a cabeça. Quer saber? A emergência envelhece a gente. Vontade de colocar minha viola dentro da sacola. Pouco importa se você usa a sua moto como ferramenta de trabalho, para transporte ou apenas pra passear. Gostaria apenas que guardasse essa parte da história: circular pelo corredor pode ser um péssimo negócio. De verdade. Quase metade das colisões entre motocicletas e automóveis acontece no polêmico corredor entre os carros. E bota polêmico nisso. Sem o corredor, a motocicleta perde toda a sua dinâmica e razão de ser. Contudo, também é no corredor que o motociclista nos mostra toda a sua fragilidade. Associe esse ambiente hostil à necessidade de correr contra o tempo, coloque a velocidade acima da inteligência e pronto: eis mais uma vítima do trânsito. Não tenha a inocência de acreditar que todos os condutores enxergam você, pois pensar assim chega a ser infantil. Mais que isso, entenda que há algo de impossível em tentar prever os movimentos dos outros veículos quando se está no corredor. No final das contas, circular por entre os carros é uma solução que traz consigo riscos que poucos motociclistas parecem conhecer. Mas a lista dos 53 é renovada, todos os dias. E a minha esperança em você também. “ Pense nisso, até a próxima, se cuida. * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#52 - O balde
Se existe uma dor que eu desejo apenas para o meu pior inimigo, certamente é aquela provocada pela pancreatite aguda. Foi o que aconteceu com o pobre coitado infeliz do Lucas, que precisou ser carregado para o hospital. A dor abdominal era tão exagerada que ele mal conseguia respirar. Embora tivesse apenas 36 anos, seus exames eram de uma pessoa com 63. Pré-diabetes, colesterol alto, triglicerídeo elevado, ácido úrico lá na estratosfera... segundo ele próprio, tudo ‘herança de família’. Pois é. Chega a impressionar a quantidade de pacientes que carregam sobre os ombros a certeza de que terão as mesmas doenças de seus antepassados. O que muitos confundem é herança genética com herança de hábitos nocivos. Talvez o seu pai tenha diabetes porque chutou o mesmo balde que o seu avô, alimentando por décadas um namoro sério com doces e guloseimas. Então, se você chuta - e quebra - o mesmo balde, é quase como comprar uma passagem só de ida para o planeta dos diabéticos. Simples e natural assim. Naquele internamento, Lucas teve a convicção de que morreria. Mas não morreu, recebendo alta com uma receita médica quilométrica, composta por uns nove medicamentos de uso diário. Passados dois anos, alguém tocou gentilmente meu ombro na fila da lotérica. Era o Lucas num largo sorriso. Para minha surpresa, estava bem mais magro do que quando o conheci. Em poucas palavras foi me contando que, depois do susto, criou vergonha na cara e parou de enfiar o pé no balde. Comprou uma bicicleta usada e passou a comer sem exageros. De quebra, não precisou mais tomar remédios, dando uma bela rasteira em sua ´trágica´ herança familiar. Muito feliz por você, Lucas. Os baldes agradecem. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#51 - No bico do papagaio
Seu Luis era quase sócio da unidade de saúde. A cada duas semanas, batia ponto na madrugada do postinho na busca sofrida para uma senha de consulta. No fundo, o que desejava era mais uma ‘injeçãozinha’ que aliviasse uma dor que castigava as suas costas há muitos anos. Seu Luis faz parte de um exército de 27 milhões de brasileiros que sofrem com problemas na coluna. Hérnia de disco, dor no pescoço, bico de papagaio, dor no ciático, escoliose, lordose, cifose... são queixas frequentes na rotina do médico e que só perdem, em números, para os casos de gripe e resfriado. Não é uma queixa boba. Em termos de afastamentos do trabalho, a dor nas costas é o principal motivo elencado pelos peritos do INSS. Dependendo do paciente, há comprometimento das atividades diárias, restrição ao trabalho, prejuízo do sono, alterações no humor e até depressão. Mas o que alguns pacientes não aceitam - e acabam descontando toda a sua fúria sobre os médicos - é que a saúde da coluna passa, invariavelmente, pelo condicionamento físico. Pacientes idosos, sedentários, ou mesmo os que trabalham no pesado, pecam aí, pois depositam suas esperanças apenas em medicamentos e cirurgias, o que pode ser bastante decepcionante. De longe, os casos com melhor resolução são aqueles em que acontece a reeducação postural, o fortalecimento e alongamento de músculos e, claro, o respeito às limitações do próprio corpo nas tarefas do dia a dia. Infelizmente poucos aderem a essa sugestão de tratamento, alegando que a dor impossibilita a prática de qualquer atividade física. Na prática, o paciente acaba indo na contramão de sua melhora, ficando dependente de medicamentos pelo resto de sua via. O que vemos, então, é uma vida arrastada. Repleta de lamúrias, lamentações e muitas, muitas injeções. Pensa nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
3 minutes | Oct 31, 2018
#50 - Nasceu!
Então é Natal... E aí, este ano você foi bonzinho? Mesmo com tanta gente indo pra praia nessa época de festas, o pronto-socorro estava lotado, empilhado pela dor e desconforto tão típicos de nossa celebrada saúde pública. Talvez não haja lugar melhor para se conhecer uma sociedade do que um pronto-socorro. Os corredores da emergência revelam mais do que as nossas perdas e infortúnios. Também está ali o resultado de nossas burrices, diferenças, vícios, paixões, pecados e claro, nosso estranho gosto pela violência. Imprudência, negligência, impaciência, dependência, intransigência, abstinência, não tem jeito... uma hora o resultado de nossas incoerências vem parar no hospital. E pelo visto o plantão daquele dia não seria diferente. Na imensa sala de observação quase não havia espaço para tanta muvuca. As macas estavam tão juntas, que uma ‘socialização’ forçada acontecia entre os pacientes. E lógico, a igualdade do SUS faz com que os ‘bonzinhos’ fiquem misturados entre algemados, bêbados e desenganados. O que todos têm em comum? Todos querem fugir dali. Entre gritos, apelos e reclamações, percebi algo de diferente no ar. Era a porta do centro cirúrgico, que se abriu num sobressalto, trazendo a todos no pronto-socorro um som inconfundível. Era simplesmente o choro sentido de um bebê, trazido todo enroladinho no colo de uma enfermeira. Para ser sincero, parecia muito mais um pãozinho de forma, todo apertadinho no pano cirúrgico. Após um trabalho de parto complicado, a pediatria suspeitou de uma fratura de clavícula no recém-nascido, que agora precisava usar a sala de radiografia da emergência. À medida que a enfermeira atravessava o longo corredor com o nosso pequeno paciente, um silêncio atento foi tomando conta de todos. Por um momento, a fragilidade e a força daquela criança surpreendeu e calou a todos por completo. Sabe, a vida tem dessas coisas. A gente pensa que sabe dela. Mas o milagre dela ainda nos encanta. Um feliz natal para você Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
3 minutes | Oct 31, 2018
#49 - Nas alturas
Dias desses, atendi a uma paciente com pressão alta. Na verdade, sua pressão estava lá nas alturas, com um valor astronômico de 23 x 12 mmHg. - Que bom, assim eu morro logo – falou a senhora de 62 anos, debochando por completo da notícia. Nosso país conta com um exército de 30 milhões de hipertensos. Além de não saberem disso, muitos têm uma noção equivocada da doença, acreditando que o principal risco seja o infarto do coração. Não é bem assim. Quando o coração trabalha sob alta pressão, uma das consequências pode ser o derrame, também conhecido por  acidente vascular cerebral (AVC). Em poucas palavras, o sangue chega com tamanha força no cérebro que seus vasos acabam sofrendo algum tipo de prejuízo. O resultado usualmente não é a morte, mas sequelas neurológicas que podem condenar a pessoa a uma cama por décadas. Dependendo da extensão do AVC, a pessoa não consegue falar, se alimentar, caminhar e precisa de ajuda para coisas simples, como banho e troca de fraldas. É quando acontece o que chamamos de tragédia familiar, pois alguém precisará cuidar dessa pessoa. Alguém de casa terá que parar de trabalhar ou estudar ou então alguém precisará ser contratado para cuidar do doente, comprometendo, muitas vezes, o orçamento da família. A pressão alta pode dar dor de cabeça, palpitações, dor no pescoço, sensação de peso nas pernas... contudo, em muitos casos, ela pode se manifestar de maneira perigosamente silenciosa. Muitos casos parecem estar relacionados com os ‘privilégios’ da vida moderna. Aumento da expectativa de vida, sedentarismo, obesidade, estresse, alimentação descuidada... E a sua pressão arterial, como está? Na dúvida, meça ela hoje. Seja no postinho de saúde ou em alguma farmácia. Caso ela esteja acima de 12 x 9, procure seu médico o quantos antes. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
3 minutes | Oct 31, 2018
#48 - Na sua carne
Um momento de silêncio se faz após todo acidente grave de trabalho. É aquele segundo em que a pessoa fica sem ação, perplexa pelo pior ter acontecido. Depois vem o desespero e o choro, acompanhados de toda a dor. Foi o que aconteceu com Teodoro, quando num descuido teve sua mão esquerda decepada numa serra de desossar carne suína. Na metade de um instante sua mão estava lá. Na outra metade já não estava mais. Simples, rápido e cruel assim. Trazido em choque pelo resgate, restou apenas o cuidado de parar o sangramento, repor volume com a transfusão de algumas bolsas de sangue, receitar analgésicos e antibióticos para o paciente e encaminhá-lo para a cirurgia para o fechamento em coto. Mas quanto valia a mão de Teodoro? Em minha inocente opinião, valia milhões de reais. Talvez muito mais. Para ser sincero, me assusta a maneira descartável como muitas empresas tratam seus trabalhadores. Sem dúvida, nossa indústria frigorífica é uma potência na produção de carnes. E na produção de acidentes de trabalho também. Aves, bovinos, ovinos e suínos... apenas no Paraná de 2012, o beneficiamento de carne causou o afastamento de duas mil pessoas de seus postos de trabalho. A maioria, algo em torno de 65%, por acidentes envolvendo maquinário e instrumentais de corte afiadíssimos. Os demais foram afastados pela hostilidade natural do serviço. Pressão das empresas por maior desempenho, jornadas exaustivas em ambiente gelado, exigência de movimentos repetitivos, exposição ao cheiro típico e difícil da carne e o convívio diário com a morte de animais. Tudo que potencializa o cansaço, a depressão e o estresse, predispondo a acidentes e doenças crônicas, tanto orgânicas quanto psicológicas. Particularmente, não gosto de atender esses trabalhadores. A maneira como são usados e desprezados me incomoda e lembra muito uma fila. Tal qual a fila de um abatedouro. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#47 - Na calada da noite
Você sabia que já somos um país de idosos? Com quase 25 milhões de pessoas vivendo além dos 60 anos? O impacto disso se reflete não somente na sociedade como no pronto-socorro, com o aumento exponencial do número de acidentes domiciliares. Será que estamos preparados para cuidar da saúde de nossos idosos? Olha, eu acho que não. Pesquisas revelam que 30% das pessoas acima de 65 anos apresenta pelo menos um episódio de queda ao ano. Curiosamente, muitos desses tombos ocorrem na calada da noite. Por conta de doenças crônicas - diabetes, pressão alta e incontinência urinária são bons exemplos - muitos idosos se levantam sonolentos rumo ao banheiro. Nessa caminhada tortuosa pelo escuro, que pode se repetir várias vezes à noite, acabam perdendo o equilíbrio e sofrendo quedas que costumam causar traumas de cabeça, fraturas e lesões diversas por todo o corpo. Infelizmente, esses acidentes podem ser o passaporte para inúmeras comorbidades, complicações, cirurgias e internamentos. Em poucas palavras, um simples tombo pode significar o início do fim para muitos idosos. Criar um ambiente seguro em casa para eles não é tarefa fácil, pois exige algum investimento em adaptações e acessórios. Além disso, muitos cuidadores são pessoas da própria família que não tem qualquer intimidade com cuidados próprios da área da saúde. Isso tudo acaba levando a um cenário pouco otimista para a qualidade de vida do idoso. Mas, como diriam justamente os mais velhos, prevenir é sempre melhor remédio.No caso deles, isso nunca foi tão verdadeiro. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#46 - Motorista em fuga
Por sorte naquela noite não havia luar. Sua esposa estava trabalhando e os vizinhos pareciam ocupados demais, com a última semana da novela. Escova, sabão, esponja... coisa difícil remover todo aquele sangue de cima do capô. A grade, o farol e o para-brisa haviam sido destruídos com o impacto. A lataria parecia ter sido mastigada e depois cuspida. Como ele iria explicar aquela bagunça? Será que o cara da bicicleta tinha mesmo morrido? E o pior, quanto custaria para consertar o carro? Pois é. Entre pedestres e ciclistas, hoje três pessoas serão atropeladas em Curitiba. Muitas chegarão ao hospital com ferimentos graves o suficiente para colocá-las a meio passo da morte. Traumatismo cranioencefálico, lesão medular, fraturas múltiplas, mutilações, hemorragias internas... sem exagero, tem dias que o nosso trânsito mais parece um filme de terror. Mas você sabia que, de cada dez atropelamentos atendidos pelos bombeiros, em pelo menos um deles o motorista foge? Sem dúvida, é uma atitude criminosa que revela a falta de caráter de muitos condutores. Ferir e não prestar auxílio é uma dessas aberrações que faz a gente se perguntar que tipo de bicho nós somos. Na emergência médica se utiliza o conceito de ‘hora de ouro’, no qual qualquer minuto perdido no atendimento, pode condenar a vítima do atropelamento a sequelas profundas e até mesmo ao óbito. E graças a esses covardes, que não param para ajudar nem telefonam para o resgate, a hora de ouro simplesmente vai para o espaço. Portanto, aqui vai o nosso obrigado a esses motoristas. Enquanto fogem, o mundo se mostra cada vez pior. Obrigado mesmo. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#45 - Morrer na hora
Naquela madrugada ele morreria na hora. Chuva forte de verão na estrada e, mesmo assim, ele acelerava com força o pedal do seu velho Vectra. Os faróis iluminaram despreocupados uma placa de aviso, antes de uma curva perigosa que namorava faceira a beirada de um abismo. Nem preciso dizer que ele ignorou a placa, se perdeu na curva e encontrou aquela ribanceira, decolando no vazio de uns 30 metros. Naquela noite, um caminhoneiro o ‘mataria na hora’. Testemunha ocular do acidente, ele encostaria seu caminhão pesado na curva, desceria afoito até o que sobrara do carro e ligaria assustado para o resgate: - Opa, alô?! Olha, um cara acabou de se matar aqui no quilômetro 667! Sim, sim, o sujeito morreu na hora! Por sorte, o bombeiro ao telefone não levou a sério o comunicado de óbito, disparando de imediato para o local uma ambulância acompanhada do caminhão de resgate. Acredite, esse acidente aconteceu a uns dois réveillons atrás e o motorista estava tão morto, mas tão morto, que esta semana me assustei ao vê-lo tão vivo na fisioterapia do hospital. Nunca entendi essa expressão ‘morreu na hora’, mas imagino quantas pessoas tenham realmente morrido - ou ficado com sequelas graves - por um simples erro de avaliação. Na dúvida e na prática, prefiro sempre acreditar que a vítima está viva, mesmo que sem pulso, dependurada por um fiapo de vida. Neste começo de ano, no qual nossas estradas serão palco de muitas ‘mortes na hora’, eu torço para que todos tenham a chance de uma nova vida. E um ano novo com muita saúde. Para todos nós. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#44 - Inimigo fiel
Aquele jovem carteiro nem teve tempo de gritar. Quando o cachorro abocanhou sua mão, uma dor lancinante fez com que ele caísse de joelhos na calçada. Em meio aos envelopes, seu sangue alertava que daquela vez a mordida tinha sido pra valer. No desespero, pediu ajuda para o dono da casa, mas obteve como resposta apenas o fechar despreocupado das cortinas. Agora, no pronto-socorro, realizávamos bloqueio anestésico com rigorosa lavagem do que havia sobrado de sua mão. O procedimento previsto seria o de tenorrafia, que é a sutura de tendões rompidos. Se o paciente voltaria a ter sensibilidade ou mesmo mobilidade dos dedos, somente o tempo e muitas sessões de fisioterapia iriam dizer. Além disso, é provável que ele precise de várias cirurgias plásticas para o reparo do tecido retalhado. Todos os dias, os hospitais do Paraná registram cerca de 100 atendimentos a feridos por cães. Estima-se, claro, que o número de casos não registrados seja bem maior. Parte dessas agressões acontece com trabalhadores que sempre visitam nossas casas e - de lambuja - nossos amigos fiéis. Entregadores, carteiros, garis e leituristas de água e luz são vítimas em potencial dessas feras domésticas, que podem causar desde mutilações a traumas psicológicos difíceis de esquecer. Isso revela uma violência comum a esses profissionais, não só observada nos cachorros, mas também em seus proprietários. Em parte, talvez, porque ambos se sintam ameaçados pela invasão de seu território. Campanhas são realizadas para a conscientização das pessoas que dificultam o acesso às suas casas. Além disso, multas são aplicadas e o atendimento interrompido nos endereços mais hostis. Mesmo assim, os ataques continuam, numa demonstração clara de que muitos seres humanos são menos racionais de que seus próprios animais. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#43 - Herói banido
Naquela manhã ela seria estuprada. Ao percorrer o longo caminho entre a sua casa e o ponto de ônibus, lá nas quebradas do Pinheirinho, Rafaela foi surpreendida por um sujeito bem vestido que se aproximou, abriu um largo sorriso, perguntou as horas e em seguida lhe acertou um soco que lhe quebrou dois dentes incisivos. Num apagão momentâneo da consciência, ela foi arrastada para um terreno baldio cheio de sombras e árvores. Ao despertar se afogando com o próprio sangue, ela sentiu o peso do agressor, que lhe pressionava a garganta com a ponta de uma faca. Sim, naquela manhã ela seria estuprada. Foi quando se ouviu um inesperado tiro, vindo de longe. Acredite se quiser. Alguém lá da rua efetuou um disparo certeiro no traseiro do tarado, que fugiu tropicando pelo matagal adentro. Mesmo em choque, Rafaela conseguiu se levantar, chegar sozinha até o ponto do ônibus e vir cambaleando até o hospital. O curioso vem agora, numa dessas curiosidades típicas da emergência. Logo após dar entrada no pronto-socorro, Rafaela reconheceu o cheiro de perfume marreta, exalado do boxe ao lado. Era um ‘coitado’ que - ao fugir de um ‘assalto’ na região do Pinheirinho - havia sido alvejado no glúteo direito. Ao perceber que bem do seu lado, separados apenas por uma cortina, estava o sujeito que tinha lhe atacado, ela entrou em pânico, sussurrando um pedido de socorro às enfermeiras. Em instantes, o infeliz já estava algemado em sua maca, cercado por vários policiais. Quanto ao justiceiro misterioso, nunca se soube nada a seu respeito. Talvez, quem sabe, por ser mais bandido que herói. No país da vergonha, no qual 140 mulheres são violentadas por dia, toda ajuda é mais do que bem-vinda. Seja lá de onde ela vier. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#42 - Game over
Vídeo game faz bem à saúde? Diversos artigos científicos garantem que sim. Dependendo do jogo, os praticantes melhoram reflexos, coordenação, raciocínio, memória e concentração. Os benefícios são os mais diversos, tanto para crianças quanto para adolescentes, adultos e idosos. Contudo (e sempre existe um contudo, não é?) a compulsão pelo jogo pode levar a consequências perigosas. Recentemente, um curitibano de 16 anos aproveitou que seus pais viajaram para se embrenhar numa maratona de vídeo game de quase dois dias. Nesse tempo, sua empolgação foi tanta que ele se esqueceu de necessidades ‘bobas’, como se alimentar, dormir ou até mesmo ir ao banheiro. Ao chegar do feriadão, os pais tomaram um susto ao encontrá-lo inconsciente em frente ao computador. Prezado ouvinte, o moleque simplesmente sofreu um colapso fisiológico. No pronto-socorro, a constatação de fadiga físico-mental misturada com hipoglicemia e desidratação. Sua façanha quase o levou a perder um dos rins. A tecnologia não para de se alastrar, com novas plataformas de entretenimento e com jogos cada vez mais viciantes e atrativos. Hoje é possível jogar online a qualquer hora e lugar, usando um simples smartphone. O excesso disso - além dos prejuízos à saúde - tem se refletido negativamente nas relações sociais e no desempenho dessas pessoas no ambiente escolar ou de trabalho. Para concluir, no ano passado um jovem de 24 anos foi a óbito em uma lan house de Xangai após jogar 19 horas ininterruptas. Para ele, sem dúvida, foi game over. Pense nisso. Até a próxima! * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#41 - Feijão maravilha
A Operação Verão deste ano começou com o pé esquerdo. Afinal, os bombeiros têm atendido - aqui nas praias do Paraná - uma média alarmante de quase 30 afogamentos por dia. Simplesmente um aumento de 89% em relação à temporada passada. Quando o assunto é afogamento, a gente logo pensa em alguns conceitos prontos: que a pessoa não sabia nadar; que estava de pileque; que estava nadando lá no fundo ou então em algum lugar perigoso ou mesmo proibido... Hoje, eu preciso falar com você sobre uma coisa chamada congestão, que pode levar a um grave mal-estar dentro da água. Em poucas palavras, a congestão - ou indigestão - intestinal pode acontecer quando praticamos alguma atividade física logo após uma refeição mais pesada. Quando nos alimentamos, muito do nosso sangue fica represado na região intestinal, de maneira a facilitar a digestão e absorção dos nutrientes da comida. Ao realizar algum esforço físico, nadar por exemplo, nosso organismo naturalmente recruta mais sangue para os músculos, o que descompensa a digestão intestinal. O resultado costuma ser a indigestão associada com desconforto gástrico, refluxo e até mesmo vômitos. Outra coisa que contribui para a congestão é o choque térmico com a água fria, o que faz com que o sangue também seja recrutado para equalizar a temperatura do corpo, principalmente a da pele. Então nunca nossas mães e avós estiveram tão certas. Antes de brincar na água, é preciso ter a certeza de que a digestão foi bem resolvida. E isso leva cerca de uma a duas horas. Outrossim, é importante não chutar o balde. Se você acabou de comer uma bela duma feijoada, por exemplo, é evidente que o tempo de digestão será bem maior. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#40 - Esta me ouvindo
Dor de ouvido é uma dessas coisas ingratas da vida. Ninguém merece. E é bem nessa época quente do ano que as otites costumam saltar e cair de paraquedas nos hospitais e consultórios. De longe, os que mais sofrem são os pequenos. Em parte porque são os que mais usam, extrapolam e abusam da água no verão. Em parte, por conta da anatomia de seus ouvidos, favorável ao acúmulo de água em seu interior. Praia, piscina, tanque, rio, lagoa... os mergulhos uma hora ou outra podem levar sujidades para dentro dos ouvidos, quase sempre acompanhadas de todo tipo de bicho (bactéria, fungo, vírus...). O resultado pode ser desde uma simples inflamação do ouvido (acompanhada de dor e de inchaço do conduto auditivo), até uma severa infecção com presença de febre alta. Uma condição ainda pior é a chamada otite supurada, na qual a infecção é tão severa que o tímpano pode extravasar secreção purulenta. Num mundo ideal, protetores auriculares dariam conta do recado. Na prática, a prevenção mesmo acontece na base da oração... Quando a otite se instala é quase mandatório afastar a pessoa da água (subentenda-se mergulhos aquáticos e pluviais ou saltos ornamentais ao melhor estilo olímpico). Além disso, é importante evitar pingar coisas estranhas no ouvido (azeite, detergente, medicamentos orais). Outrossim, não invente moda com cotonetes: na maioria das vezes eles só servem para compactar e aprisionar a sujeira lá no fundo do ouvido, prolongando ainda mais o sofrimento. Por fim, evite a automedicação. Não coloque em risco a sua audição, consulte um médico. Sempre. Pense nisso, se cuida e até a próxima. “ * * *
2 minutes | Oct 31, 2018
#39 - Hora do cerol
Céu azul, tarde ensolarada de um sábado para esquecer. Uma pequena multidão se acotovela em cochichos, querendo ver de perto a desgraça alheia. No asfalto escorrido em sangue, o corpo imóvel de um ciclista atingido pela mais traiçoeira das armadilhas. Na chegada da ambulância, apenas a constatação de que não havia mais nada a ser feito. Quando pipas, arraias, papagaios ou pandorgas têm suas linhas embebidas em uma mistura de pó de vidro com cola – o tal do cerol – eles viram verdadeiras lâminas de bisturi voadoras. Jugular, carótida, tireoide, traqueia... o pescoço costuma ser alvo fácil, e a pessoa pode morrer de maneira desesperadora, em poucos minutos. Motoqueiros, ciclistas, pedestres e até mesmo pássaros... ninguém está livre do perigo que vem nunca se sabe ao certo de onde, provocado por alguém que usualmente some na covardia do anonimato. Alguns tipos de cerol também incluem a limalha de metal, que quando atinge a rede elétrica costuma provocar choques de milhares de volts, causando extensas queimaduras, amputações e até mesmo paradas cardiorrespiratórias. Muitos dizem que o cerol é coisa de moleque. Que as ‘batalhas’ aéreas entre pipas não passa de uma saudável brincadeira de meninos. É a balela de sempre, de pessoas que alimentam uma estúpida tradição que é passada geralmente de supostos adultos para crianças. Grande parte dos adeptos dessa ideia conhece os riscos e a maldade envolvidos por trás de cada centímetro de cerol. E, como sempre, leis vazias são criadas, burladas e esquecidas, como é de costume em nosso país. Então, basta uma rápida procura na internet para conhecer receitas de cerol. Basta uma visita a lojas do gênero para encontrar linhas de cerol em carretéis de todas as cores. Alguns dizem que já fomos mais inteligentes. Às vezes eu tenho a certeza. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
3 minutes | Oct 31, 2018
#38 - Diretora ofensiva
Senta que lá vem história. Há muitos anos, os bombeiros tinham um sargento marrento, daqueles que só te davam bom dia uns cinco anos depois de ter te conhecido. Contudo, era consenso que a sua presença nas ocorrências acalmava a todos, principalmente os soldados mais novos. Conhecido como Pé de Algodão, aquele sargento era o condutor de viatura que todos desejam em uma emergência. O apelido veio não só porque era o derrubador de portas oficial do grupamento, mas porque dirigia como ninguém um auto-bomba de 12 toneladas. No trânsito, impressionava a todos com a sua gentileza e extremo cuidado para com as pessoas na rua. Além disso, te levava rápido e com segurança a lugares de Curitiba que nem a prefeitura sabia existir. Naquela época meu amigo, era tudo na base do mapa da lista telefônica e o conhecimento necessário para ser um condutor dos bombeiros colocava qualquer taxista no chinelo. Não havia essa história de usar GPS ou então consultar mapas pela internet. Hoje o tempo de deslocamento é bem menor, mas também nunca houve tantos atropelamentos e colisões envolvendo viaturas. Em nossa cidade, o destaque é para as canaletas de uso “exclusivo” dos ônibus, que há tempos foram invadidas por veículos que supostamente deveriam trafegar apenas em condição de emergência. Hoje há tantos veículos na canaleta que - dependendo do horário - fica mais fácil você embarcar em um carro desses do que em um ônibus. Pior que isso, há casos de atropelamentos fatais em que essas viaturas trafegavam em velocidade incompatível com a via, sem sinalização sonora, tampouco luminosa. Então me fala, por favor, qual o tipo de ocorrência que merece colocar em risco a vida de outras pessoas? Um incêndio em uma escola, um sequestro relâmpago, um baleado com pneumotórax, uma criança atropelada? Seja sincero, vale a pena machucar ou matar alguém para salvar outra pessoa? Quando os feridos desses acidentes vêm parar aqui no pronto-socorro, eu sempre penso no Pé de Algodão. E quer saber? As pessoas dessa cidade já têm motivos demais para ter medo. Então, quando você acelerar a sua viatura pelas ruas, faça isso para o bem. Apenas para o bem. Pense nisso, até a próxima, se cuida. “ * * *
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